Compreender o Aspeto Neurológico das Subluxações
Este é o capítulo final da nossa série sobre o Complexo de Subluxação Vertebral (CSV), focando agora a vertente neurológica. Nos artigos anteriores, abordámos o papel do alinhamento (consulte o nosso texto sobre análise postural e equilíbrio da coluna) e da mobilidade (veja o post sobre amplitude de movimento e mobilidade articular). Nesta fase, queremos mostrar como a capacidade de regulação do sistema nervoso pode ser avaliada através da Variabilidade da Frequência Cardíaca (Heart Rate Variability, HRV) e da Termografia Infravermelha Paravertebral—duas ferramentas que revelam o modo como as subluxações podem influenciar processos autonómicos (involuntários) do corpo.
Por Que Motivo Vamos Além da Estrutura
O CSV não se resume ao alinhamento ou movimento de vértebras; inclui também disautonomia—desequilíbrios do sistema nervoso autónomo (SNA). Subluxações, inflamações ou stress mecânico podem perturbar os sinais nervosos, afetando elementos como a frequência cardíaca, a circulação sanguínea e outras funções involuntárias. Avaliar esta interferência mais subtil é essencial para uma visão global da sua saúde.
O Que Está em Jogo
∘ Stress e Recuperação: Caso haja perturbação na sinalização nervosa, o corpo pode permanecer num estado de “luta ou fuga” (predomínio simpático), dificultando o relaxamento e a recuperação.
∘ Impacto Sistémico: O desalinhamento do SNA pode contribuir para dores de cabeça recorrentes, tensão muscular, má qualidade de sono ou até problemas digestivos, mesmo que a origem nem sempre seja associada à coluna.
Como Recolhemos Dados de HRV
Normalmente, colocamos um pequeno sensor (no dedo ou na orelha) para medir o intervalo temporal entre os batimentos cardíacos. Este procedimento faz-se em repouso, sentado ou deitado, durante alguns minutos, a fim de obter valores de referência. Observamos como a HRV varia com a respiração e ligeiras mudanças de postura, para aferir a capacidade de resposta do SNA.
O Que Significam os Resultados
∘ HRV Elevada: Indica boa capacidade de adaptação. O organismo pode alternar facilmente entre “luta ou fuga” (simpático) e “repouso e digestão” (parassimpático).
∘ HRV Baixa: Sugere stress crónico ou menor capacidade de regulação—ou seja, o sistema nervoso pode estar menos resiliente (Kent, 2018).
Relação com as Subluxações
Alguns estudos defendem que corrigir subluxações melhora o equilíbrio autonómico, traduzindo-se num aumento da HRV. Se, por exemplo, se detetar um valor inicial de HRV mais baixo e, após uma série de ajustamentos, se observar uma subida gradual, tal indica que a regulação autonómica está a recuperar a capacidade de adaptação.
Como Efectuamos a Termografia
Utilizamos um scanner infravermelho especializado ao longo de cada lado da coluna, captando as variações subtis de temperatura na superfície da pele. Este exame é não-invasivo e geralmente demora poucos minutos, com o paciente de pé ou sentado.
Interpretação das Diferenças de Temperatura
∘ Influência Simpática: O sistema nervoso simpático regula a dilatação ou constrição dos vasos sanguíneos. Deste modo, “zonas quentes” ou “zonas frias” persistentes podem indiciar desvios na regulação nervosa (Allen, 1993).
∘ Foco em Regiões Específicas: Se o exame mostrar um padrão de assimetria constante na temperatura, digamos, na região torácica inferior, podemos relacionar esses dados com outros testes (postura, mobilidade) e localizar onde uma subluxação pode estar a afetar a função nervosa normal.
Significado Clínico
Quando detetamos irregularidades, isto pode apontar para uma sobreactividade simpática ou irritação local do nervo. Ao efetuar ajustamentos quiropráticos específicos, visamos equilibrar esses padrões—promovendo um fluxo sanguíneo mais normalizado e melhor comunicação nervosa.
Imaginemos a Sara, 40 anos, com dores de cabeça frequentes e alguma ansiedade:
HRV Inicial: Apresenta baixa variabilidade, sugerindo um estado de “luta ou fuga” crónico.
Termografia: Evidencia uma diferença de temperatura acentuada na zona cervical superior, associada a hiperatividade simpática.
Plano de Cuidados: Foca a correção de subluxações em C1/C2. Após algumas semanas, as reavaliações mostram um aumento na HRV e padrões de temperatura mais equilibrados junto ao pescoço—coincidindo com a diminuição das cefaleias e menor sensação de ansiedade.
P: A termografia é dolorosa?
R: De forma alguma. É um procedimento sem contacto, que apenas deteta a radiação infravermelha natural emitida pela pele.
P: Quanto tempo demora o teste de HRV?
R: Normalmente, dura entre 3 a 5 minutos, realizado em ambiente calmo para obter leituras estáveis.
P: Esses testes substituem os exames estruturais?
R: Não. Eles complementam as avaliações de alinhamento e mobilidade (descritas em artigos anteriores) para criar um panorama mais completo da função vertebral e neurológica.
∘ Tal como vimos nos artigos anteriores sobre alinhamento (PostureScreen, distribuição de peso, sEMG) e mobilidade (amplitude de movimento, palpação em movimento), estes exames neurológicos—HRV e termografia—concluem a abordagem multidimensional das subluxações:
∘ Se existem problemas de alinhamento ou mobilidade, corrigimos desequilíbrios estruturais.
∘ Se o SNA revela desequilíbrios, medimos HRV e a temperatura paravertebral para verificar se a regulação nervosa melhora.
∘ Juntando todas as conclusões, pretendemos não só aliviar sintomas como também fortalecer a capacidade de adaptação, reduzindo stress e prevenindo problemas futuros.
∘ Gostaria de saber mais sobre o funcionamento das avaliações de alinhamento ou mobilidade? Consulte as publicações anteriores:
∘ Alinhamento e Análise Postural
∘ Mobilidade e Amplitude de Movimento
∘ Quer descobrir se a HRV ou a termografia podem fornecer informações valiosas sobre o seu sistema nervoso? Marque uma avaliação ou pergunte-nos na sua próxima consulta.
∘ Em suma, estas análises neurológicas permitem-nos olhar “além da superfície”. Ao medir as respostas ao stress do corpo e os padrões de temperatura, estamos mais aptos a abordar a real dimensão do Complexo de Subluxação Vertebral—ajudando a restaurar equilíbrio, resiliência e bem-estar a longo prazo.
Referências
Allen, C.H. (1993). Thermographic Patterns Associated with Spinal Nerve Dysfunction. Journal of Clinical Chiropractic, 5(2), 77–82.
Kent, C. (2018). Autonomic Regulation and Chiropractic Care: An Overview. Journal of Vertebral Subluxation Research, 2(1), 1–5.